Sem trololo
empreitada da ação comunicativa: para quem tem alguns minutos para discutir política
Do interesse pela (e da) política – Primeira parte
Categories: Geral

Por Stella

Pegando carona no texto escrito pelo Matheus, “Mais uma contra o sensacionalismo juvenil – Não Faz Sentido”, escrevo aqui a partir do que ouço dizerem por aí: que as pessoas não se interessam por política.

Vamos por partes, como diz o Jack. O que é política? O que é política pra você que está lendo esse texto? ‘Política é fazer escolhas’, alguns diriam. ‘Decidir com ética’, complementariam outros; ‘administrar/gerenciar em nome do que é melhor para a maioria’, eu ainda poderia ouvir. Pois digo eu que política é tudo isso e também não é nada disso. Tomar decisões envolve, sim, política, ainda mais quando essas decisões afetam (e sempre afetam) qualquer outra pessoa, outra relação (pode desencadear expectativas, por exemplo), outro espaço ou outra coisa que não se restrinja a nós mesmos (isto é, que não se restrinja ao sujeito que tomou a decisão – e é bom lembrar que nossas decisões nunca se restringem a nós mesmos).

Mas então qualquer tomada de decisão é política? Se acordo, ouço um barulho de chuva e decido não ir trabalhar estou tomando uma decisão política? Se opto por comprar laranjas e não maçãs, estou fazendo política? ‘Evidente que não’, imagino que alguns podem responder. ‘A decisão política tem um local e uma finalidade específica’. E quais seriam esses local e finalidade? Alguns pares de respostas que imagino que possa encontrar, respectivamente: o governo e o que é bom para todos; o governo e o que é bom para a maioria; os espaços institucionais (câmara de vereadores, de deputados, senado, presidência) e a administração da cidade/ do estado/ do país.

Tudo continua vago. É preciso especificar um pouco melhor. Então vamos lá. A pergunta-chave que, na minha opinião, esclarece os significados dos termos acima (como ‘governo’, ‘o que é bom’, ‘administração’, ‘espaços institucionais’) e começa a dar algum sentido para a nossa pergunta sobre “O que é política” (e o possível desinteresse das pessoas pela política), a pergunta que esclarece é: COMO tomar as decisões? Como é possível presumir o que é bom para todos, alguns, ou a maioria? Como efetuar um planejamento de governo? A resposta parece óbvia: elencando prioridades. Não é o que nossas mães nos dizem quando, adolescentes de tudo, resolvemos que queremos abraçar o mundo e queremos tudo-ao-mesmo-tempo-agora? Elas nos dizem para termos prioridades.

E a escolha das prioridades – aí sim! – é uma escolha política. Não se escolhe aleatoriamente o que é (ou parece ser) urgente e o que pode esperar. Não é aleatoriamente que se opta por destinar as verbas governamentais (dos impostos, lembram-se?) para a construção de pontes ou para a construção de universidades. Não é aleatoriamente que se opta por demolir imóveis ociosos em vez de ocupá-los com moradia digna para quem precisa (faço referência aqui ao excelente artigo de Nabil Bonduki, sobre a demolição dos edifícios São Vito e Mercúrio, em São Paulo, que pode ser lido aqui: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/operacao-sao-vito-uma-demolicao-que-e-um-crime-contra-sao-paulo). Não é aleatoriamente que se opta por A e não por B.

Se não é aleatoriamente, COMO, então, escolhemos? Podemos escolher pelo cálculo custo-benefício. Mas isso também não é suficiente, porque há que se ponderar e qualificar o que é benefício, e se há benefícios gerais (para todos ou para a maioria, em se tratando de governança) ou não. Podemos escolher com base em gostos e preferências, como o caso entre a laranja e a maçã ou entre a preguiça e o trabalho. O que congrega tudo isso? O que chamarei de interesse. Não faz sentido? Fazemos escolhas com base no que nos interessa. Mas o conceito corre o risco de ser facilmente manipulável e talvez vago demais. Ora, estamos falando de política, e em política, o interesse que rege as escolhas se condensa no que chamamos de projeto político.

Dizer que a política é a tomada de decisão baseada numa ética, portanto, não resolve: a ética está subordinada ao projeto político. Exigir coerência, sim, resolve, pois a ética está subordinada ao projeto político. Moralismos não resolvem, pois as morais são muitas, e a ética, subordinada à moral, é também subordinada ao projeto político, que contempla, constrói e fortalece a moral que é convergente com os interesses expressos nesse projeto político.

Paro por aqui. O texto continuará, tratando de qual é o interesse que a política hegemônica hoje espalha (adianto: o ‘desinteresse pela política’ é um interesse e também uma estratégia da política de hoje!), poder e trazendo, em breve, elementos mais concretos para as discussões sobre os projetos políticos que estão em disputa nessa campanha eleitoral.

1 Comment to “Do interesse pela (e da) política – Primeira parte”

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