Sem trololo
empreitada da ação comunicativa: para quem tem alguns minutos para discutir política
Em defesa da tradição, da família, e da propriedade do pré-sal
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por Jorge Furtado

Mônica Serra, que muita gente só foi conhecer um dia desses, andou pelos subúrbios brasileiros fazendo a campanha do marido e dizendo a evangélicos que Dilma “mata criancinhas”. Quem noticiou o fato foi o jornal O Estado de S. Paulo (que abriu voto para José Serra). Índio da Costa, vice na chapa demo-tucana, foi o companheiro de Mônica em sua missão evangelizadora entre os pobres.

Indio da Costa, isto quem conta é o jornal O Dia, comprometeu-se com evangélicos a barrar a lei que proíbe discriminação contra homossexuais, o que nos leva a concluir que, no mínimo, o vice de Serra não vê problemas na discriminação contra homossexuais. Índio da Costa, que o Brasil também conheceu um dia desses e que ainda pode amanhecer presidente da república (como já aconteceu com vários vices), sugeriu, na tribuna do Congresso, a realização de um plebiscito sobre a pena da morte. O mais que sabemos de Índio é seu envolvimento em licitações não muito bem explicadas com fornecedores de merenda escolar (denuncia que virou CPI comandada por uma vereadora do PSBB carioca) e a notícia amplamente divulgada dele ter sido “o relator” do projeto ficha limpa, o que era mentira: o relator do projeto é o deputado petista José Eduardo Cardozo, da coordenação da campanha de Dilma.

Verônica Serra, a filha de José e Mônica, como informou exemplar reportagem de Leandro Fortes na revista Carta Capital, foi sócia de Verônica Dantas (sócia e irmã do banqueiro condenado por suborno de um policial federal e acusado de vários crimes em diferentes países, Daniel Dantas), numa empresa que violou o sigilo fiscal de milhões de brasileiros. (Para provar que a tal decidir.com entregava a mercadoria que vendia, a Folha publicou, em 2001, o cadastro de cheques sem fundo de alguns deputados). Apesar de trazer graves denúncias detalhadamente documentadas, a reportagem de capa da Carta Capital foi solenemente ignorada pela antiga imprensa e nunca desmentida por ninguém. Enquanto isso, a mais estapafúrdia ficção, como a do sujeito que achou “200 mil do tamiflu” na sua gaveta, ou a do receptador de conservante de presunto roubado que pleiteava 9 bilhões (é bilhões mesmo, com b) de financiamento no BNDES e não levou porque não pagou suborno, ganham quilômetros de manchetes e horas de acalorados debates.

David Zylbersztajn foi o primeiro diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), nomeado por FHC em 1998 e reconduzido ao cargo em janeiro de 2000. Em 1999, ele liderou a quebra do monopólio da Petrobras na exploração do petróleo no Brasil. “Sua separação da esposa Ana Beatriz Cardoso, filha do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em maio de 2001, antecipou sua saída da chefia da ANP, embora seu mandato lhe garantisse a permanência no cargo até o final de 2005”. (da Wikipedia) Em 2002 fundou a empresa DZ Negócios com Energia, especializada em assessorar investidores interessados na indústria brasileira de petróleo. Agora, em 2010, ele defende, como declarou em nota assinada e publicada no blog de Josias de Souza, “a manutenção do sistema de concessões também para as futuras licitações, sejam elas no pré-sal, ou fora dele”, ou seja, o interesse dos seus clientes.

José Serra, perguntado por Dilma Rousseff no debate da Band sobre a questão do sistema de concessões do pré-sal, enrolou, como sempre faz, ensaiou acusações vagas, desfiou clichês decorados, sorriu e mudou de assunto, como lhe mandaram. Serra também enrolou e não respondeu nada sobre as declarações de sua esposa, nem sobre o sumiço dos 4 milhões de sua campanha, entregues a Paulo Souza, a quem Serra afirmou não conhecer: “Não sei quem é, nunca ouvi falar”. Depois de ameaçado pelo próprio (“Não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada, não cometam esse erro”) e aparecer ao seu lado em várias fotos, Serra lembrou dele rapidinho, a ponto de defendê-lo.

Diz a Folha: “Serra diz que governo levou o tema aborto à campanha”.  Ao Terra, Serra diz que quem trouxe o assunto para a campanha foi “o povo”: “Não fomos nós que introduzimos o tema e sim o povo”. Enquanto isso, sua campanha na televisão – que não é feita nem pelo governo nem pelo povo – abre com imagens de uma grávida alisando a barriga, um feto num exame de ultrassom, uma trilha melosa e uma locução que, em voz grave, começa afirmando: “Ter um filho não é uma escolha”. A apelação segue por imagens de bebezinhos recém-nascidos e termina dizendo que é preciso “escolher o bem, escolher a vida” e conclui: “E para escolher o melhor para o Brasil, é Serra presidente”. Já vi muitas baixarias nas campanhas eleitorais brasileiras mas, pelo menos desde que Collor acusou Lula de desejar um aborto, não vi nada tão rasteiro. Collor tinha, ao menos, a coragem de não terceirizar sua canalhice.

José Serra, hoje um assumido representante da mais tacanha e grotesca extrema-direita religiosa, incluindo a TFP e nazipastores de várias religiões, posa de crente enquanto sua turma faz contas de quanto poderia ganhar com o petróleo, que por enquanto é nosso. O pré-sal bem vale uma missa.

Aqui: http://www.casacinepoa.com.br/o-blog/jorge-furtado/em-defesa-da-tradi%C3%A7%C3%A3o-da-fam%C3%ADlia-e-da-propriedade-do-pr%C3%A9-sal

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